terça-feira, 2 de julho de 2013

Brasil precisa de um projeto de educação para o futuro

No mês passado foi divulgada a queda do rendimento na disciplina de matemática entre alunos do 5º ao 9º ano nas escolas da rede pública brasileira. O país vem apresentando uma queda nesse índice, e esse número não deve ser uma preocupação apenas para estudantes e educadores, mas para toda a sociedade.

No ano de 2007, 22% dos alunos do 5º ao 9º ano tinham um rendimento em matemática considerado adequado. No ano de 2011, esse percentual caiu para 12%. Isso significa que em uma sala de 40 alunos, menos de 9 estudantes teriam um conhecimento regular dessa disciplina - isso em 2007. Em 2011, esse número cairia para menos de 5 alunos.
Esses números são um sinal de alerta para o nosso país. Não indicam apenas que estamos nos distanciando de atingir as metas educacionais ideais para um país cuja economia é a sexta do planeta, mas também mostra que estamos nos afastando do que precisaríamos para atingir metas razoáveis de desenvolvimento econômico.

Já citei aqui diversas vezes que o Brasil tem tudo para se transformar, em poucos anos, no maior produtor de alimentos do mundo, mas isso não quer dizer - em nenhum momento - que devemos nos limitar a produzir matéria prima, as chamadas commodities.
E quanto mais nossos estudantes se afastam das ciências exatas, mais o país, como um todo, se afasta do desenvolvimento científico, da criação de novos produtos, equipamentos, do registro de novas patentes, de novas invenções.
Uma das causas apontadas para esse problema é o grande déficit de professores da disciplina de matemática no país. O último levantamento federal, de acordo com o que foi publicado na Folha de São Paulo, aponta que precisamos urgentemente de 65 mil professores de matemática no país para que possamos atingir uma situação de equilíbrio. Vale ressaltar que é o maior déficit entre todas as disciplinas escolares. A mesma reportagem aponta que esse desequilíbrio faz com que milhares de estudantes passem, às vezes, até um ano letivo inteiro sem ter aulas de matemática.
O resultado disso é que conforme a complexidade da disciplina aumenta, na evolução natural das séries escolares, com a falta de professores, as dificuldades somente crescem e depois - no ensino médio e na faculdade - os alunos geralmente não conseguem recuperar os conhecimentos e a prática que deveriam ter sido trabalhados no ensino fundamental.

Mas podemos considerar que uma das conseqüências mais dramáticas seja a forma como os estudantes passam a olhar a disciplina de matemática: com rejeição, como se fosse um bicho de sete cabeças.
No dia 27 de outubro de 2011 eu trouxe a minha preocupação, para este plenário, sobre a necessidade de investimentos em educação voltada para a indústria de alta tecnologia. Na ocasião, destaquei aqui que não basta investirmos grandes somas em infraestrutura física, em trens, em estradas, em portos, até mesmo em veículos lançadores de satélites se não investirmos no ser humano. E esse investimento precisa ser feito dentro de uma visão estratégica, dentro de uma noção do que queremos para a Nação brasileira.
Em outubro de 2011 eu citei aqui que  “A educação, desde nível básico, passando pelo ensino técnico e científico, é, com certeza, o caminho para a superação dos desafios do crescimento econômico. Mas precisamos, sobretudo, de mais investimentos numa educação voltada para o modelo de desenvolvimento que adotamos, para os projetos estruturantes de nossa sociedade. Hoje, o Brasil se afirma como potência agrícola, mas também precisa se afirmar como potência industrial e potência tecnológica”.
A motivação daquele pronunciamento foi a manifestação de educadores, aqui no Congresso Nacional, sobre a parcela do PIB destinada à educação, e de lá para cá, senhoras e senhores, temos a constatação de que os esforços realizados no setor estão sendo insuficientes. Os resultados divulgados na Folha de São Paulo comprovam isso.
O Plano Nacional de Educação 2011-2020, em análise aqui no Senado, é uma grande ferramenta de transformação social e econômica do Brasil, mas precisa estar atrelado a:
- aumento de recursos destinados à educação
- uma mudança na gestão do setor educacional brasileiro, que hoje tem quase 60% de sua mão de obra fora das salas de aula
- uma política estratégica emergencial de educação capaz de contornar esta situação representada pela queda do nível de conhecimento de Matemática dos nossos estudantes.
Destaco aqui a gravidade e a urgência dessas três medidas, justificando esta última, pela necessidade de eliminarmos o déficit de professores de matemática e ciências exatas, para que possamos mudar o perfil de nossa educação para uma que seja capaz de gerar mais cientistas, mais engenheiros, mais matemáticos. A presidenta Dilma apontou a mesma necessidade em discurso esta semana, quando disse que “o Brasil precisa de trabalho cada vez mais qualificado, porque nós queremos que os nossos trabalhadores tenham salários cada vez mais adequados, elevados, para manter e dar conforto para os seus e para suas famílias.”
Sem tomar essas providências, corremos o risco de que a décima segunda meta do PNE, que é elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, acabe se tornando inócua.
Digo isso porque não precisamos APENAS de MAIS ESTUDANTES NO ENSINO SUPERIOR, mas sim PRECISAMOS DE MAIS ESTUDANTES EM ÁREAS ESPECÍFICAS DO ENSINO SUPERIOR, principalmente nas áreas de Exatas, de ciências, de tecnologia.
Medidas como essas foram tomadas pelos Estados Unidos, pela China e pela Coréia do Sul, por exemplo, em momentos em que esses países precisavam dar saltos em quantidade e em qualidade de sua economia, de sua capacidade de produzir riquezas.
Vinculado à reportagem da Folha de São Paulo, foi publicado artigo da educadora Kátia Stocco Smole, gestora de um dos mais importantes grupos de pesquisa e de estudo em Matemática no país, cujo título deve ter um significado muito importante e urgente para o Brasil: "Talvez tenhamos de fazer pacto pelo ensino da matemática".
Eu reforço a afirmação da educadora. PRECISAMOS fazer um pacto pelo ensino da matemática no Brasil se queremos um futuro melhor para nossos filhos, se queremos um país capaz de inovar na ciência e na tecnologia, capaz de fazer registros de patentes na informática, na bioquímica, na eletrônica e outros setores regidos pelas ciências exatas.

Afinal de contas, como poderemos realizar essas conquistas:
- se temos hoje um déficit de 65 mil professores de matemática, como é que formaremos mais engenheiros e mais professores;
- se continuarmos pagando mal os professores, como é que os nossos poucos estudantes que se dedicam às ciências exatas vão querer se tornar professores;
Por esse motivo que eu apresentarei uma proposta de ampliação da carga horária de matemática e de ciências no currículo escolar, dentro do sistema de educação de ensino em tempo integral, que a presidenta Dilma defendeu nesta terça-feira, em discurso feito na capital do Ceará. Precisamos de mais tempo para que os professores que estão aí possam tratar as suas disciplinas de forma mais envolvente, mais aprofundada. Mais tempo para que possam mostrar aos alunos a importância da matemática e das ciências exatas, quebrando preconceitos e estigmas antigos.
Acredito que será um desafio a ser encarado não apenas pelo Ministério da Educação, mas também por todo o país, pois precisaremos realmente de um pacto para o ensino de matemática e de ciências exatas, afim de suprir a carência de educadores desse setor.
Acredito que com isso poderemos buscar uma sintonia com a meta 12 do Plano Nacional de Educação - PNE, garantindo um equilíbrio na entrada ao ensino superior referente à escolha entre as ciências exatas, humanas e naturais - porque hoje esse equilíbrio não existe. Caso contrário não teríamos um déficit de 65 mil professores de matemática no país.

Com isso, registro a urgência da discussão aprofundada sobre o Plano Nacional de Educação, assim como de uma discussão séria sobre uma política estratégica para a educação visando o nosso desenvolvimento econômico e humano.

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