Sem a BR-319, empresas de Rondônia ficam sem um importante meio para
enviar sua produção, e o Amazonas fica desabastecido e com custo de vida alto
O Comércio 3 Irmãos, à margem da
Travessia do Igapó-Açu, a cerca de 300 quilômetros de Manaus, está vazio. Uma
balança mecânica instalada em uma viga não tem nenhum produto para ser pesado.
A proprietária do comércio, dona Creuza de Assunção Correia, 47 anos, banha-se
à margem do rio despreocupada. Ela vê na margem Sul a balsa aproximando-se
vazia. Do lado norte, o mesmo movimento.

No mesmo dia em que a diligência
da Comissão de Agricultura do Senado chegou a Manaus, representantes destas
instituições se reuniram com o governador do Estado do Amazonas, Omar Aziz, e
com o presidente do Conselho de Desenvolvimento Empresarial da Amazônia Legal
(Codema), Raniery Araújo Coelho, para tratar de uma campanha permanente pela
reconstrução da BR-319.
Os empresários dos dois Estados
entendem que a reconstrução da BR-319 é parte fundamental dos planos de
desenvolvimento sustentável da região. “O Estado do Amazonas teve a sua Zona
Franca renovada por mais 50 anos e deve manter sua economia com a produção de
máquinas e equipamentos eletrônicos, enquanto Rondônia precisa desta rodovia
para poder fornecer alimentos para o mercado de Manaus, que tem 2,5 milhões de
consumidores, de forma competiva”, salienta Rubens Nascimento, superintendente
da Fecomércio-RO, que participou da diligência. Hoje, segundo Nascimento,
Rondônia está perdendo esta disputa para estados do Sul e Sudeste.
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Reunião do Conselho de Desenvolvimento Empresarial da Amazônia (Codema) que encampou campanha pela reconstrução da BR-319 |
Desde os anos 90, quando a rodovia
BR-319 foi praticamente destruída, com nacos de seu asfalto arrancados à
máquina, que o percurso entre Porto Velho e Manaus se transformou em uma
desventura. Se a diligência da CRA, composta por 22 veículos com tração nas
quatro rodas, pneus preparados para lama e equipamentos de salvamento, passou
por momentos difíceis e prejuízos, imagine o que pode acontecer com quem
quisesse fazer o trajeto com periodicidade e com cargas frágeis ou perecíveis.
Dona Creuza tanto não ter
clientes para seu comércio como também a ausência de turistas e de produtos
vindos de Rondônia. “Depois que essa estrada parou isso aqui ficou muito ruim.
Eu trabalho aqui há 30 anos e só vem piorando porque não tem mais a estrada”,
reclama. “Eu tenho dez filhos, mas só seis vivem comigo”, explica Creuza,
alegando dificuldades para manter a casa com seu comércio. “A gente se vira pra
cá e se vira pra acolá, mas antes tirava muito bem daqui, tinha movimento de
tudo, de turista, de caminhão, hoje não tem nada”, desabafa.
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Dona Creuza de Assunção Correia, comerciante do Igapó-Açu, que espera reabertura da rodovia |
De acordo com Salatiel Rodrigues,
diretor estadual da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB-RO), que
participou da diligência, a precariedade da rodovia é um entrave para a
economia da região. "Hoje temos cooperativas que embarcam produtos no
Porto de Porto Velho e levam 3 dias e 3 noites para chegar no comércio de
Manaus. As cooperativas embarcam, por exemplo, tomate de Alto Alegre de
Parecis, abacaxi e banana de União Bandeirantes”, declarou. De acordo com
Rodrigues, se o tráfego de produtros fosse pela BR-319, as condições seriam
diferentes. “Os caminhões poderiam sair de Porto Velho de manhã e chegar à
tarde em Manaus, com produtos frescos e proveitosos. A perda chega a ser de 30%
de frutas que amadurecem e apodrecem no caminho. Por isso a reconstrução da 319
é tão importante para o comércio de Rondônia”, detalhou.
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Raudson Rodrigues, Marcito Pinto, Acir Gurgacz, Marcos Rogério, Zé Rover e Salatiel Rodrigues |
Para José Merched Chaar, que é
presidente da Federação dos Sindicatos e Organizações das Cooperativas da
Região Norte, o estado atual da rodovia BR-319 é a causa de isolamento e
questiona o risco para o meio ambiente no caso da reabertura da via. “Nossas
cooperativas localizadas nos municípios do Sul do Amazonas dependem dessa
estrada. Nós estamos isolados!”, explicou. De acordo com Chaar, como a rodovia
já está aberta, não há perigo do meio ambiente ser agredido com a sua
reabertura. “Essa estrada já existe e nós não somos loucos de querermos
destruir o meio ambiente. A questão não é essa. A questão é política. Se
tivermos a vontade determinada dos políticos e dos nossos povos, vamos
conseguir esse objetivo e vamos nos unir de volta ao Brasil, o que não acontece
hoje”, acrescentou.
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Pontes precárias em todo percurso da BR-319 |
INVESTIMENTO - O presidente do
Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias (Simpi) de Rondônia, Leonardo Sobral,
não participou da diligência promovida pela Comissão do Senado, mas enviou o
vice presidente, Luiz Carlos Kozerski. Apesar de não ter visto in loco a
situação junto com os parlamentares, jornalistas e outras entidades, Sobral
reconhece que o atual estado da rodovia emperra o desenvolvimento não apenas de
Rondônia e do Amazonas, mas também de toda a região Norte do país. “Daqui de
Rondônia para lá poderia ir muita produção, e no caminho contrário com certeza
viriam turistas, consumidores. Se for considerar a economia de uma população de
mais de 5 milhões de pessoas envolvidas, apenas nas principais cidades, é fácil
chegar à conclusão de que o investimento para reformar a rodovia é irrisório”,
destacou Sobral.
Para o empresário, que representa
as micro e pequenas indústrias do Estado de Rondônia, caso seja aberto o
trânsito para Manaus, as micro e pequenas indústrias de Rondônia terão muito a
comemorar. “Manaus é a maior cidade da Amazônia, com mais de dois milhões de
habitantes, na hora que abrir esse corredor para lá, será uma maravilha”,
considera. De acordo com Sobral, Manaus tem uma produção industrial para
consumo interno muito pequena, e por isso poderá absorver todo o excesso de
produção de Rondônia, o que não acontece hoje por causa da falta de uma
rodovia. “Hoje é preciso enviar a produção para lá via balsa, e isso é muito
caro e complica demais a produção”, afirmou Sobral.
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Leonardo Sobral, presidente do SIMPI-RO |
O transporte via balsa é muito
complicado. Tudo que é encaminhado para o transporte fluvial precisa aguardar
que a balsa seja preenchida completamente, para sair somente depois. De acordo
com o presidente do Simpi, é preciso produzir contando com um prazo que muitas
vezes acaba atrasando, e isso se torna inviável para a produção de perecíveis,
como os hortifrutingranjeiros. “Hoje produzimos muito mais orgânicos do que
consumimos, mas isso não pode ir de balsa”, detalha Sobral. “Não posso comprar
uma balsa, mas posso comprar um caminhão, e isso faz toda a diferença quando
falamos da reabertura da BR-319”, finaliza o empresário.
O vice-presidente da Fiero,
Adilson Popinhak, que também participou da diligência, disse que a abertura da
rodovia será importante para todos os setores e também para a crescente
indústria do Estado. “Hoje Rondônia produz de tudo e com essa rodovia vamos
abrir mais uma rota de mercado, estendendo-se além de Manaus, chegando a
Roraima, à Venezuela e com a saída para o Caribe”, detalhou.
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