Restauração de rodovia estratégica para integração da Amazônia custará
metade do valor gasto na Arena da Amazônia, o estádio de Manaus que vai sediar
três jogos da Copa do Mundo de 2014
Os participantes da diligência da
Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal na BR-319 irão
recorrer à presidente Dilma Rousseff na tentativa de destravar o processo de
reconstrução da rodovia, que liga Porto Velho a Manaus. Inaugurada em 1973, no
processo de colonização e integração da Amazônia, e principal ligação terrestre
de Manaus ao restante do país, a rodovia hoje está intransitável em quase
metade de seus cerca de 900 quilômetros.
Tentativas de recuperação da
estrada se arrastam desde 2003 e a decisão de recorrer à presidente da
República é a saída para acabar com os desencontros entre o Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Mesmo prevista no Programa
de Aceleração do Crescimento do governo federal, o PAC, a obra que tem valor
estimado em R$ 400 milhões, encontra resistência dos órgãos ambientais do
governo e de ambientalista.
Autor do requerimento propondo a
diligência, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO) explicou que a BR-319 é essencial
para o escoamento da produção da região, o deslocamento da população local e
também para potencializar o turismo. A realização das obras de reconstrução da
rodovia depende da liberação de licenças ambientais pelo Ibama, que já recusou
quatro estudos apresentados pelo Dnit alegando inconsistência. “Parece que há
dois governos: um que quer fazer e outro que não deixa acontecer. Quantas obras
estão paralisadas por conta de falta de licenciamento ambiental? Parece que o
meio ambiente não quer o desenvolvimento do nosso país, principalmente com
relação à nossa Amazônia”, afirmou Acir.
Diretores do Dnit (de boné) e do Ipaam (camiseta verde) explicam situação da rodovia para o senador Acir Gurgacz e integrantes da diligência |
Em 2005 o governo federal
anunciou a recuperação da rodovia, lançando o edital de licitação da obra. Logo
apareceram impedimentos ambientais, técnicos e políticos de toda ordem para
derrubar o edital e o processo de licitação, que só conseguiu ser concluído em
21 de novembro de 2008, quando as obras iniciaram em duas frentes de trabalho
partindo dos extremos da rodovia, sob a responsabilidade do Exército
Brasileiro.
Um trecho de 204 quilômetros na
saída de Manaus, no Amazonas, e outro de 208 quilômetros na saída de Porto
Velho, em Rondônia foram recuperados e finalizados em 2010. A recuperação do
trecho intermediário da BR-319, com a extensão de 405 quilômetros, no chamado
de meião da rodovia, foi embargado pelo Ibama em 2009, mesmo com o projeto de
restauração possuindo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), executado pela
Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Trecho bom de 208 quilômetros da BR-319, entre Porto Velho e Humaitá, inaugurado no dia 24 de abril de 2010 |
Desde então, muitos estudos de
impacto ambiental já foram feitos e refeitos. De acordo com o diretor geral do
Dnit, general Jorge Fraxe, mais R$ 90 milhões já gastos, só por este órgão, com
estudos ambientais e intervenções a fim de mitigar prováveis impactos
ambientais no entorno da rodovia neste período, bem como na criação de unidades
de conservação.
A última exigência do Ibama foi
um estudo mais completo, a ser realizado durante o período de um ano, para
avaliar o comportamento da fauna e flora, e o ciclo das águas, durante as
épocas de chuva e de estiagem. Este novo estudo está sendo realizado pela
empresa Engespro Engenharia, ao custo de R$ 8 milhões, e deve ser concluído até
o dia 5 de março de 2014, abrindo possibilidade para que a restauração possa
ser retomada nesse mesmo ano.
Durante a diligência da Comissão
de Agricultura do Senado, este impasse entre Ibama e Dnit também foi
evidenciado. “O Estudo de Impacto Ambiental para reconstrução da BR-319
apresentado não atendeu ao que estava estabelecido no termo de referência e por
quatro vezes solicitamos estudos complementares”, afirmou o superintendente do
Ibama no Amazonas, Mário Lúcio Reis.
Meião da floresta amazônica é irrigado por milhares de igapós e grande biodiversidade protegida em unidades de conservação |
Para o Dnit, não haveria motivo
para as exigências do Ibama, uma vez que não se trata de abertura ou duplicação
da via, mas restauração de estrada já existente. “O impacto ambiental já
ocorreu quando da abertura da rodovia. Agora estamos falando de restaurar o que
já estava feito”, disse o superintendente do Dnit no Amazonas, Fábio Galvão.
“O
complemento do EIA/RIMA definitivo está sendo concluído e será submetido à
aprovação do Ibama. Aí sim, o Dnit pode entrar com as obras de restauração e
pavimentação. Nossa intenção é de que a partir da metade do ano que vem todos
os lotes estejam contratados e em execução para que até o final de 2014 essa
ligação entre Porto Velho e Manaus esteja concluída e integrada no que diz
respeito aos serviços de manutenção, que incluem revestimento primário,
recomposição de erosões, recuperação de pontes e substituição de boeiros",
detalhou Galvão. A expectativa é que a restauração completa da rodovia seja
licitada logo no início de 2015.
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