terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Posição sobre o diploma de jornalista

Amigos, como fui citado em matéria publicada pela Fenaj como se estivesse na dúvida sobre a questão do diploma de Jornalista, enviei a carta (que torno aberta) abaixo para a Federação Nacional dos Jornalistas. Explico que sou a favor do diploma, mas sou mais favor ainda a rever o currículo do curso.

Em matéria publicada na quinta-feira passada, sobre a votação acerca do restabelecimento do diploma do Curso de Jornalismo como critério para contratação, meu nome é citado como parlamentar que ainda não declarou o voto. Isso é verdade. No entanto, em redes sociais, a matéria da Fenaj repercutiu, entre seus usuários, como se fosse uma indecisão de minha parte.
Ainda não me pronunciei pelo simples fato de que estamos realizando estudos sobre o currículo do curso de Jornalismo. Atuo em um grupo de empresas que possui uma universidade onde é aplicado o curso e que também possui um sistema de comunicação. A boa formação de profissionais do setor é, para mim, é algo do mais extremo valor.
Considero a discussão sobre o tema um tanto quanto exaltada, pois o diploma nunca perdeu sua validade, assim como não se tornou proibido contratar profissionais diplomados. Por isso preferimos uma via desapaixonada para avaliar a situação.
É senso comum nas redações (que conheço muito bem, pois fundei um jornal e lá trabalhei por anos) que muitos egressos dos cursos de Jornalismo chegam às redações ainda despreparados para a prática da profissão. É mais comum ainda ouvir a frase: “é na redação que você vai aprender jornalismo”. Desta forma, é preciso avaliar, antes do critério ou não acerca do diploma do curso, o currículo em si.
Ano passado o MEC teria batido o martelo nessa questão. Neste ano, o assunto volta à baila com discussões dirigidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Eu, pessoalmente, acredito que a formação técnica do jornalista não se resume a conhecimentos acerca de edição de vídeo, diagramação, ética, produção de texto ou teoria da comunicação, dentre outros. Julgo mesmo que o CONHECIMENTO de temas normalmente cobertos pela imprensa deveriam fazer parte do currículo do curso de Jornalismo, como regimentos de assembléias estaduais, do Senado, da Câmara, processos eleitorais do Brasil e pelo menos dos Estados Unidos, noções básicas de processo civil e criminal, e também conhecimentos necessários para a cobertura esportiva – estuda-se na faculdade de Jornalismo como funciona o Campeonato Brasileiro, o Campeonato Europeu, a FIA, a FIFA, a COI?
Acompanhei em meus tempos de administração de jornal, coisa que faço até hoje, por gosto pessoal, a dificuldade de jornalistas recém-formados a se adaptar a editorias que eles não traziam a predileção desde o tempo do colégio. Ou seja, o jovem que gosta de esportes sai da faculdade apto para cobrir a editoria específica, mas devido a uma bagagem de conhecimento que era dele. O mesmo acontece em outras editorias, como cultura, política, geral, economia e polícia. Acompanhei também a dificuldade de posicionar um formando em Jornalismo em cargos diferentes de repórter, como editor – não editor-chefe, mas simplesmente editor de um caderno, de uma editoria.
Assim sendo, eu acredito realmente que o diploma deve valer, mas deve haver imediatamente uma reformulação do curso de Jornalismo, para que ele deixe de ser um curso de formação de repórteres, e não de jornalistas. Muito menos considerar que a faculdade ensinará o aluno a escrever – posto que todo estudante deveria sair do Ensino Médio capaz de executar a ação da escrita com total eficiência.
Meu voto, decididamente, será pela obrigatoriedade do diploma, mas acredito que devemos estudar um termo de ajustamento de conduta no qual possamos definir novas disciplinas para o curso, que poderão ser cursadas pelos jornalistas provisionados e pelos jornalistas já diplomados, assim como, obrigatoriamente, pelos estudantes que futuramente ingressarão na faculdade de Jornalismo.
Acredito ser essa uma visão que expande a mera discussão de ser obrigatório ou não o diploma. Uma visão que expande o valor da profissão, que a torna mais especializada e que diminuirá, sensivelmente no futuro, a possibilidade de empresas verem vantagem em contratar um profissional sem o diploma.


Att

Senador Acir Gurgacz

4 comentários:

  1. Muito boa vossa opinião, gostei muito do assunto.
    Em Rondônia a área jornalística é muito pobre, não pelos futuros profissionais que estão chegando ao mercado, mas sim pelos dinossauros que aqui habitam e ainda teimam em permanecer no ar com vossas propagandas medíocres, palavreado pobre ( para não dizer que são semi-analfabetos) e assim por diante, acho e acredito que uma vida acadêmica e um curso superior ajuda muito o ser humano a ser uma pessoa melhor, mais culta, dinâmica etc. Precisamos na verdade dar mais espaço para a galera que está chegando ai com todo o gás e aposentar esses dinossauros que insistem em atormentar com matérias fúteis e palavreado pobre. Confesso que odeio assistir alguns jornalistas locais, pelo simples fato de não ajudar em absolutamente nada no conhecimento e na cultura. Isso é algo que precisa ser mudado e logo.

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  2. Da forma como o Senador quer, o curso de jornalismo teria a duração de 10 anos! Um curso superior serve apenas para dar as diretrizes da profissão, essas qualidades todas que o Senador procura os profissionais formados devem buscar em cursos de especialização. Aliás, Senador, é disso que carece o jornalismo: há pouquíssimos cursos no país de especialização em jornalismo, e menos ainda de mestrado e doutorado, enquanto que o Direito e profissões da saúde são muito bem servidos desses cursos que vão além da graduação, básica como ela deve ser...

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  3. Concordo com a opinião da nobre amiga "Erica Cristina" realmente as outras áreas como de direito tem uma vasta gama de opções em especializações, mestrados e doutorados. O que vossa pessoa disse faz total sentido, mas tem a questão também da graduação. Em minha opinião acho que o que o Senador Acir quer retransmitir é que o curso de jornalismo necessita de "melhor qualidade no ensino" somente isso, sanando esse problema teremos em um prospecto futuro bons profissionais e não pessoas que temos o desgosto de visualizar na televisão falando coisas erradas, repassando informações inúteis e vivendo de mandar abraços para ganhar pinga e bares da cidade. Um boa graduação com profissionais que atuam na área e tem uma bagagem prática no C.V tem possibilidades de oferecer tudo isso que o senador citou acima, claro que não com a mesma prática e artimanha de um jornalista de longas datas, mas a teoria ajuda muito na hora da prática.
    Boa noite.

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  4. Discordo da ideia de que uma graduação deva ser apenas "básica". A responsabilidade de exercer uma profissão que é decisiva na formação de opinião da sociedade exige uma qualificação mais aprofundada, venha ela com o diploma ou não. Independentemente da obrigatoriedade do diploma, o que vemos hoje são jovens jornalistas saindo das faculdades sem os mínimos conhecimentos necessários para exercer a profissão. Concordo com o Senador, um jornalista deve conhecer a estrutura legislativa, administrativa e judiciária do país. Seguramente, a introdução de algumas disciplinas nessa direção, e de outras que forneçam uma maior bagagem de cultura geral aos futuros jornalistas, não levaria o curso a ter dez anos, talvez um ano a mais. A discussão a respeito da obrigatoriedade do diploma torna-se irrelevante, face aos problemas curriculares dos cursos de jornalismo e à flagrante falta de qualidade dos profissionais que deles saem. Nos EUA e em vários países que são referência nos estudos da comunicação, o diploma é desnecessário. A propósito, sou jornalista diplomada, mas não concordo com o corporativismo insensato que se esconde atrás de um pedaço de papel, em detrimento da procura pela qualidade da formação profissional. .

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