No seminário dessa sexta-feira, da série ‘Agricultura em Debate’, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária aqui no Senado, discutimos o mercado da carne e derivados. O descompasso entre os preços praticados pelos produtores de carne bovina e derivados e os preços do varejo, nos supermercados, foi o que nos motivou a promover essa importante discussão entre produtores rurais, entidades do governo, agentes financeiros, como o BNDES, representantes de frigoríficos e consumidores.
Quando constatamos que o preço do boi gordo subiu 70% dos últimos cinco anos para os pecuáristas e 140% nas prateleiras dos supermercados, alguma coisa está acontecendo de anormal. Mas esse é um mercado complexo e por isso convidamos diversos especialistas do setor para que pudéssemos ter um panorama atualizado da situação.
O debate durou mais de três horas, com transmissão ao vivo pela TV Senado, e muitos pontos foram apresentados pelos especialistas, diretores do BNDES, da CNA, da Abrafigo, do representante do Ministério Público no Cade e da secretária de Direito Econômico do Ministério da Justiça.
Em síntise, podemos dizer que a atual situação no mercado da carne é reflexo de uma conjuntura de mercado que vem sofrendo impactos desde a crise sanitária de 2006, passando pela crise financeira internacional de 2008, e que foi agravada pela decisão do governo e do BNDES priorizarem investimentos nos grandes frigoríficos.
Essa política ampliou a concentração de mercado e prejudicou milhares de pecuaristas e dezenas de frigoríficos em todo o Brasil, sem contar que o controle do preço da carne ficou restrito a poucos agentes.
Aproveitei para questionar os diretores do BNDES sobre essa decisão de nosso principal banco de fomento. Sabemos que o BNDES tem uma participação muito grande no desenvolvimento de nosso país . Agora com relação aos frigoríficos perguntei se a decisão de investir nos grandes, inclusive com participação acionária, e avançar no mercado de outros países é uma nova prioridade do BNDES, ou ele ainda tem como foco investir na indústria brasileira, promovendo desenvolvimento e emprego aqui no nosso país?.
O gerente do Departamento de Acompanhamento e Gestão da Carteira 1 do BNDES, André Gustavo Salcedo Teixeira Mendes, apresentou as linhas de financiamento do banco para o setor produtivo e disse que o banco apóia a expansão do setor de carnes. Ele falou o seguinte:
"Os financiamentos do BNDES com taxa diferenciada são para o Brasil. Agora na modalidade de participação acionaria, aí os recursos pode ser utilizados para fusões e aquisições tanto no Brasil como no exterior. Foi essa política que o BNDES adotou ao financiar e se associar aos grandes frigoríficos brasileiros. Não daria para o Brasil criar um grande player global sem a participação do BNDES", respondeu.
Realmente é importante a liderança do Brasil no mercado internacional da carne. Eu creio que foi uma decisão acertada do BNDES, mas é preciso também olhar para o nosso mercado interno, para os pequenos e médios frigoríficos, que na verdade não são tão pequenos assim como o nome sugere. Temos bons frigoríficos, com ótima estrutura e tecnologia de ponta, certificação federal, e tudo regulamentado, e que estão passando por dificuldades justamente por conta desse cenário. Aproveitei também para cobrar do BNDES apoio para esses frigoríficos saírem da crise, evitando assim mais quebradeira e desemprego.
O gerente do Departamento de Agroindústria do BNDES, Celso de Jesus Júnior, disse que o banco vai ampliar as medidas de incentivo aos pequenos e médios frigoríficos de carne bovina dentro da nova Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), em elaboração pelo governo federal.
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