terça-feira, 9 de novembro de 2010

Certo futuro

Quando cheguei a Rondônia para ficar, em 1982, dirigia uma caminhonete em uma estrada de terra mal batida, praticamente seguindo o trator que abria caminho na floresta. O governo brasileiro pedia ajuda à população para colonizar, integrar uma região inóspita, com uma densidade demográfica muito baixa. Na trilha, encontrava cidadãos oriundos de todos os cantos do país. Em comum, aquelas pessoas tinham a esperança estampada no rosto.

Conversava com as pessoas, trabalhadores braçais, comerciantes abrindo pequenos estabelecimentos erguidos em pau a pique, agricultores, e todos diziam a mesma coisa. Estavam felizes por estar ali. O motivo era um só: viviam, naquele momento, a grande experiência de terem uma legítima oportunidade. Descobriam-se plenos de possibilidades, cultivando a terra que viria a realmente ser deles, viam a prosperidade de suas lojinhas ressurgir a cada dia.

Rondônia cresceu muito de lá para cá. Olhar as cidades, as ruas que existem hoje, os prédios, as estradas, dá muito orgulho. Não havia nada ali, a não ser a floresta e um punhado de gente com esperança, confiantes no próprio trabalho. O futuro tornou-se nosso.

Hoje, deparo com a notícia de uma pesquisa realizada por um instituto chileno, feita em todos os países latino-americanos. O resultado lembrou-me a viagem de 1984 rumo ao coração do país, da América Latina, em Rondônia: 91% dos brasileiros aprovam no rumo de suas famílias e 75% aprovam no rumo que o Brasil tomou. É uma média alta. São, no mínimo, 142 milhões de pessoas confiantes na nossa terra.

Com muito menos que toda essa carga de energia positiva, eu testemunhei um Estado ser semeado, germinar e crescer até o que é hoje, um dos que mais evolui no país. Com a esperança desses milhões e milhões de brasileiros trabalhando em harmonia, só podemos mesmo crer que ao Brasil está reservado o futuro que organismos e imprensa internacionais indicam para nós: uma potência mundial, o maior produtor de alimentos do planeta, um país de grande influência global.

Mas não podemos festejar antecipadamente, tocarmos nossas vuvuzelas e ficarmos esperando esse futuro dourado chegar até nós. O trabalho foi duro até aqui e promete ser ainda maior daqui pra frente. Temos distorções a corrigir, aquelas que ainda nos envergonham dentro do cenário global. Uma distribuição de renda equivocada, a saúde pública desmantelada, uma educação mais que deficiente e a falta de ética nas relações sociais e políticas. Precisamos mudar a cara do Brasil para que possamos desfrutar de todas as potencialidades que temos.

Havemos de fazer isso por todos os cantos. No trânsito (sendo mais cordiais e responsáveis), no condomínio (contribuindo de forma construtiva junto aos nossos vizinhos e na coletividade), na educação (apoiando nossos filhos mostrando o valor do estudo, participando das Associações de Pais e Professores, planejando melhores aulas), na política (agindo com honestidade e buscando soluções definitivas para problemas que assolam o Brasil há séculos), e por aí afora.

Falo isso tudo porque temos o costume de sabotarmos a nós mesmos, considerando que a grama do vizinho é sempre mais verde. Isso nem sempre é verdade. A pesquisa que citei revela que o Brasil é o país sulamericano mais confiante em seu futuro, deixando para trás o Chile, Argentina e todos os outros. E isso só tem um motivo: acertamos mesmo o passo. Demorou, mas acertamos.

Por esta razão que eu me sinto, novamente, como naquela estrada em Rondônia, seguindo um trator que abria o caminho na floresta. Só que dessa vez a estrada é mais larga e nela caminham mais de 190 milhões de pessoas.

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