terça-feira, 9 de novembro de 2010

Por que precisamos de um país?

Recebi uma crítica de um professor, um cidadão que mora no Nordeste brasileiro, acerca de um pronunciamento que fiz no plenário do Senado Federal. O texto em questão foi aquele no qual defendi a volta das disciplinas Organização Social e Política Brasileira, conhecida como OSPB, e Educação, Moral e Cívica. O crítico se justifica alegando que tais matérias escolares eram fruto da Ditadura Militar, e, logo, seriam perigosas para a nossa sociedade. Vejo, então, que cabe uma explanação.

Em primeiro lugar, as disciplinas, como citei no pronunciamento, são datadas de 1961, portanto, na época do presidente João Goulart, o Jango. Logo, antes da Ditadura Militar. Em segundo lugar, posso concordar com o professor que fez a crítica no tocante ao fato de os militares terem alterado o conteúdo da disciplina. Mas se esse foi o motivo de retirar as duas disciplinas da grade curricular de nossos estudantes, tenho que lembrar que a Ditadura também alterou outras disciplinas, como até mesmo História e Geografia. Desta forma, seria correto cortar também essas duas matérias?

Não. O certo teria sido recuperar o propósito inicial de OSPB e Educação, Moral e Cívica, mantendo as duas fontes de informação e conhecimento para nossos estudantes. Pois, afinal de contas, a Ditadura Militar veio e se foi, mas o país continua contando com uma organização social e política, não é verdade? Então por que não devemos falar sobre ela? Por que nossos estudantes não devem aprender como o país funciona ou deveria funcionar? Precisam eles ignorar a estrutura de nosso Estado, tornando-se incapazes de criticar com conhecimento algo do qual eles possam discordar?

Acredito realmente que um processo democrático pode conviver perfeitamente com o ufanismo e o amor à Pátria. A crítica gratuita aos nossos valores nacionais de nada adianta ao nosso país. Algumas cidades do Brasil ainda estão voltando somente agora a executar o Hino Nacional e a participar do desfile do Sete de Setembro, devido a sentimentos amargos para com o passado, que ainda perduram. Isso ajudou em alguma coisa o país? Não. Muito pelo contrário. Uma nação de individualistas, que não conseguem aceitar os valores de Pátria, de País, um alvo fácil para a corrupção e a desagregação da sociedade como um todo, desde a família até os círculos mais amplos.

Falei já aqui que não há herança mais valiosa para deixar a nossos filhos do que um país justo e cheio de oportunidades. Um país que retribua o amor de seu povo. O Brasil, infelizmente, ainda não é esse país, e a culpa é de todos nós. Um país como esse que desejo para os nossos filhos e netos é um Brasil que garanta saúde, educação e moradia para todos. Que garanta uma vida digna, os confortos da modernidade, que permita o acesso ao emprego, cultura e ao lazer, para todos os cidadãos, e não apenas para alguns.

Para conseguir isso, precisamos que tenhamos todos nós consciência de que o país é de cada brasileiro, e não apenas de alguns. Precisamos de um país porque ele é nossa casa, nosso conjunto de regras que permite que a vida corra bem em sociedade. Somos nós que temos que escolher como será esse país. Mas não conseguiremos fazer isso sem saber como ele funciona, e sem termos por ele respeito e admiração.

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